quarta-feira, outubro 20, 2004

ÀS ESCONDIDAS

Os primeiros chuvisco restituem-nos
o incrível cheiro da terra
mas nós estaremos quem sabe longe
do que tem significado

Preenchemos a inscrição numa piscina municipal
não sabemos bem o motivo ou não dizemos a ninguém
como os dias nos pedem a dureza
ofegante, instintiva
que têm para os nadadores as braçadas

Uma sombra nos acalma
Uma claridade nos dói

Cedo receamos a felicidade daquelas imagens
que reencontramos dentro de nós
e não se ligam a nada

José Tolentino Mendonça

AS PALAVRAS ABREM PORTAS

As palavras abrem portas
que só elas abrem-fecham:
revolvem o pó da lembrança
batem no vidro do coração
temporário Jonas prisioneiro

Engolidas pela máquina do tempo
um dia irão reaparecer
em mudos ecrãs iluminados

Hão-de ser recopiadas
mas sem poderem já recuperar o acre sabor metafísico
da sua perdida voz

Ana Haterly

COMO UMA VACA VEIO RESIDIR COM OS ORELHUDOS

Um dia numa floresta um coelho matou um homem. Um insecto rastejou na cara do homem. Uma vaca observava esperando que o homem se levantasse. Uma vaca saltou uma sebe para ver mais de perto como um coelho arruma um homem. Um coelho ataca uma vaca pensando que a vaca veio ajudar o homem. O coelho domina a vaca e arrasta a vaca para a sua toca.
Quando a vaca desperta a vaca pensa como eu queria estar ao cima da terra indo com o homem para o seu estábulo.
Mas a vaca permanece com estes orelhudos para o resto da vida.

Russel Edson

segunda-feira, outubro 11, 2004

(...)
Confeso que estou tola: Eu vivo no telhado
de casa e cando chove bebo a chuvia que cae
e dela me alimento. Beboa como quem bebe
(...)

Maria Campo

quinta-feira, outubro 07, 2004

Quando estou mal disposta
(e estou-o muitas vezes...)
mudo o sentido às frases,
complico tudo...

Alexandre O'Neill